terça-feira, 17 de junho de 2014

"Há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo o interesse pelas coisas."

A luz que se apaga

Perdi meu bico, perdi minhas unhas, perdi minhas asas...
O sol, revitalizador, tem me causado náuseas. Queima sem luz, queima com o fogo que atinge os meus olhos sem ao menos descamá-los.
Hoje, já não mais sendo eu a fênix, fico em estado de espera para que suas lágrimas ao menos curem as minhas feridas. Já não faço mais isso por mim mesma, mas por aquela que fui, sem volta. 
Não mencionarei o incansável caminho a percorrer, já foi percorrido. Nem me preocuparei em atender a qualquer exclamação que possas julgar entender. Elas não existem! Há somente pontos, daqueles finais que aparecem sempre no meio das histórias. Não há aonde chegar e nada mais precisa ser procurado. Pois o céu continua infinito, sem Fênix alguma para voar sobre ele.



Livre

O silêncio inconstante
Quando resolve contestar
Consta pouco aos navegantes
Que o superam, se importar
Não o querem nem saber
Nem tão pouco elucidar
Incontinente pela terra
Incontinenti a qualquer mar.


sábado, 5 de maio de 2012


Sem, falta! 


Essa inquietude que desvaira

Aquele silêncio que eu perdi

Dou conta, não!

Que saudade que sinto de mim...



domingo, 11 de março de 2012

Tempo senhor. 
Tempo, Senhor, tempo!

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?
Tenho visto o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os exercitar."
(Eclesiastes 3:1-10)

O tempo, muitas vezes, entrou em minha vida no lugar de Deus. Relógios que me escravizam no mundo que  determina que eu viva. Sou filha do determinismo, neta da evolução, irmã da sobrecarga. O tempo carrego em minhas costas como se ele dependesse de mim. Eu não o faço, ele me escolhe. Eu o cumpro com seus protocolos pagãos. O tempo não me deixa escolhas porque as faço antes, tenho pretensões. Se o planeta fosse quadrado, eu o fecharia em quatro cantos. 
Um dia assisti a uma palestra em que um físico explicava o surgimento do tempo, quando não existia o antes dele existir... Antes, bem antes do tempo. (...)
Dele, do tempo, eu não quero nada. Estou aprendendo a amar só quem me ama. Tempo ingrato! Faço de tudo por você e nem sequer me dá a chance de tentar entendê-lo. Dicotômico, anarquista, pode deixar. Saiba que quem lhe domina, um dia o entregará em minhas mãos, eu sei que nada mais poderei fazer, mas será maravilhoso ter o gosto de saber que você também não!

 

O Tempo


Deus pede estrita conta de meu tempo,
É forçoso do tempo já dar conta;
Mas, como dar sem tempo tanta conta,
Eu que gastei sem conta tanto tempo?

Para ter minha conta feito a tempo
Dado me foi bem tempo e não foi conta.
Não quis sobrando tempo fazer conta,
Quero hoje fazer conta e falta tempo.

Oh! vós que tendes tempo sem ter conta
Não gasteis esse tempo em passatempo:
Cuidai enquanto é tempo em fazer conta.

Mas, oh! Se os que contam com seu tempo
Fizessem desse tempo alguma conta,
Não choravam como eu o não ter tempo.

                                                                                        Laurindo Rabelo

O poema acima, encontrei no caderno de uma colega de pós-graduação há exatos 10 anos. Muito me disse e ainda diz, porém, Tempo de Deus...

sábado, 10 de março de 2012

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(Operários - Tarsila do Amaral)

Operários - Tarsila do Amaral

Organiza[ação]?
Sequência, sequência, sequência. Aparecem e vão se multiplicando. Humanos me saturam, organizados, estabelecidos, dentro de um quadro muito, muito social. Politicamente corretíssimos, todos eles. Vamos entrar na fila. "Senhoras e senhores, podem virar à direita e se manter em fila reta. Por favor, reta, assim..." Enquanto estão na fila, descansam. Na fila dá para ler jornal, lixar unha, coçar... Um homem repara que mais alguém adentrara ao ambiente. "Senhor, senhor, a fila!" Eu já ia me esquecendo que preciso comprar Pó Royal, fazer bolo... Que bando de idiotas, penso. Êpa! na fila não é permitido pensar. Que bobeira a minha, podendo ficar sem pensar e querendo arranjar "deusnosacuda". Passar o tempo, passar o tempo... rápido, não posso pensar, tenho que arrumar algo para passar o tempo na fila. Acho que estou com febre. Coloca a mão aqui na minha testa. Tá quente? De repente aparecem uns, uns... não sei o nome, coisa estranha. Será que é bom dar um espirro? O fato é que a fila está enorme, muito grande mesmo e eu estou bem no meio dela. Deve haver bem uns mil a minha direita e mais uns mil a minha direita também. Pode-se olhar só para este lado.
A minha mente é do formato original, segundo informações dos estratificadores, mas de uns tempos para cá, tem apresentado defeitos e eu não posso contar isso a ninguém. Estou com uma estranha mania de reparar os seres, principalmente os humanos. E o pior, e grave: analiso as vozes dos estratificadores. É que é assim: eles ficam a todo momento organizando essa maldita fila pedindo que fiquemos à direita. Essas vozes não são nada estranhas, minha mente original as reconhece, o problema surgiu quando percebi que elas eram organizadoras demais. Tive que esvaziar, vomitar, passei muito mal mesmo, acredite. Desprogramar não é fácil, e fiz tudo sozinha porque, como disse, na fila, não podemos pensar. 
O fato é que os estratificadores deixam que nos comuniquemos. Sob seus olhares, podemos nos expressar sobre os mais diversos assuntos, como por exemplo: "será que vai chover?"; "que calor!" ou ainda, "que horas são?". Eles não se importam que falemos sobre isso e leiamos o jornal ou lixemos nossas unhas ou cocemos ao mesmo tempo.  Podemos até olharmos uns para os outros, mas tudo tem que ser bem artificial, eles não querem que nos incomodemos com nada, preocupam-se que nos preocupemos e é por isso que se preocupam por nós. 
O esvaziamento se deu neste dia. Eu estava lá pensando em comprar Pó Royal e tentei seguir o percurso natural da minha mente, ou seja, abortar os pensamentos e me acomodar. Não sei que raios aconteceu que, quando o estratificador mandou eu me ater à fila, eu virei à esquerda! Foi muito rápido mesmo! Eu não estava acostumada a pensar e aquilo desencadeou a coisa que eu não sabia o que era e que vinha se manifestando há algum tempo. Eu não virei só a minha cabeça, foi o corpo todo. 
Descrever em algumas linhas a sensação de um segundo é fascinante. Neste tempo, consegui descobrir que o estratificador também era programado, seus movimentos passaram a ser estranhos e não saía do lugar. O sonoro "Mantenha-se na fila" estava enroscado. Sem voz! De repente, ele correu, precisou dar a volta e pisar à esquerda para se posicionar a minha frente porque eu me encontrava virada para lá. Imediatamente mais dois humanos viraram também, como eu havia feito e acompanhavam, não o estratificador, mas a  mim que a essa hora já havia saído do meu lugar. Estava eu, os dois humanos e o estratificador. Meu pensamento girava e desencadeava aquela coisa. Comecei a falar com os dois humanos, sem me importar com o estratificador e eles também se comunicavam. Eles tinham as tais sensações que eu tinha enquanto na fila e descobrimos que elas atendiam pelo nome de "ideias". 
Trocamos ideias e mais ideias e percebemos que nossas mentes estavam sendo reprogramadas e isso sim era muito natural. Porém, no calor das discussões, no momento que nos aproximávamos da imensa fila, sentimos a ausência do estratificador. Este, como ser programado que era, automaticamente, sem precisar pensar em nada, chamou outros iguais a ele.
O que não me conformo é que bastaram somente cinco estratificadores para reorganizar todo o sistema. Gritávamos para os humanos da fila nossas ideias, mas não podiam nos ouvir. Era um tal de "será que vai chover?" que eu preferi ir embora, mas um dos estratificadores me colocou na fila novamente.
Como eu gostaria que mil caíssem a minha direita e mil caíssem a minha esquerda naquele momento, mas ficaram todos os filhos da puta em pé, os novecentos e noventa e nove de um lado e os novecentos e noventa e nove do outro. O estratificador ficou à frente de todos nós para demarcar bem o seu território e reiniciar o processo de estratificação. E eu ali, aguardando na fila, e ainda precisando comprar o Pó Royal para fazer o bolo.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Instinto ou intuição?

Não consigo me reportar. Está me incomodando essa necessidade de escrever hoje. A expressão a me perseguir durante o dia: "à flor da pele". Alguma coisa aguçando meus instintos sem definição. Não sei definir "instinto", então, usarei a palavra intuição, muito mais cômoda. Mas eu também não sei definir "intuição". Instintos podem me transportar a caminhos que resistem às explicações; intuição é mais enigmática, mas qualquer um acha que sabe explicar, logo, convence. Isso daria uma ótima tese se eu muito tivesse estudado essas definições...
Quero ser sincera. Eu tenho o que fazer mas ajo como se não tivesse. Não sinto culpa por isso porque estou me sentindo livre. Sem definições aqui. Respeito a palavra "liberdade" e não posso colocá-la neste texto (ponto)
Quanto a você, penso que esteja passando o tempo, ou não.     
Não quero saber de interlocutor algum porque nem dou conta muito de mim.
(...)
Volta! quero saber sim, não me abandone agora. Quero saber onde chegarei com essa minha... soberba? Arrogância? Desrespeito com a parte que lhe toca? Melhor definir como "ironia". Sou muito isso e não quero repetir palavras.
Por favor, reitero estimas e com muito apreço rogo-lhe que continue acompanhando meu raciocínio porque preciso de um cúmplice para minhas sandices. Primeiro peço desculpas por estar omitindo uma parte do texto que se encontra na parte inferior desta linha no momento exato em que escrevo. Não lhe darei conhecimento, são escritas que logo serão deletadas e nunca serão conhecidas. Esse é o poder da palavra dita que pode ser desdita porque o leitor jamais a conhecerá. Considerando que ele também faz parte do texto e que a minha consciência pesa em saber que estou traindo tão fiel amigo, dou satisfação que se trata de uma breve análise sobre a gramática e questões de oralidade. Uso de uma quase soberba, porque não a tenho, para explanar do poder de minha caneta em relação às redações de alunos. É um trecho digno de pena, mal escrito, pior que este, no qual descomprometo-me com tudo e todos. Então, poupo-lhe desta deselegância modal.
Tenho um instinto para escrever com muita intuição. Fico inquieta, desassossegada demais. Preciso de solidão ou de estar comigo. Outros não servem. É uma febre sem medida que exala os sopros da minha alma. Confluência. Algo que pede, muito educadamente, e eu autorizo com muito prazer. Nem eu preciso entender, porque a vida é para ser sentida. Eu a sinto com todas as dores que ela pode me proporcionar e a temo com seus desamores. Mostro-lhe como quero mostrá-la, com todos os meus disfarces, minha sensibilidade e despretensão. Ajo como se não tivesse instintos e escrevo somente por intuição.
Amigo interlocutor, não esqueça que não quero repetir palavras.
E obrigada por me acompanhar nesta mansidão.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

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Hoje, retiro os meus pés do chão, 
preciso buscar a saudade daquilo que ainda não senti...


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